Cada vez mais presente na nossa vida, as notícias mal digeridas e apuradas continuam causando estrago em reputações e no cotidiano de milhares, senão milhões, de pessoas, todos os dias.
A natureza humana sempre reproduziu esse padrão: espalhar boatos ou más notícias em alta velocidade. A diferença para os dias de hoje é que a alta velocidade é a velocidade da luz. Ou seja, a mentira continua com perna curta, mas se espalha com um clique, instantâneamente. Quando se consegue estancar uma mentira e consolidar um desmentido, a calúnia já devastou ou afetou a vida de muita gente que nada tinha a ver com o peixe.
Por outro lado, quem anda guardando mentiras e falcatruas no porão são descobertos e revelados como nunca antes da história.
Como lidar com tanta informação e velocidade? Esta é uma questão para cada um de nós encarar com carinho e perseverança.
O escândalo da operação Carne Fraca da PF, a suspeita de que os principais frigoríficos brasileiros forneciam aos consumidores carne podre com pedaços de papelão causou prejuízos de centenas de milhões de dólares na balança comercial e ameaça a vida de familias que trabalham na indústria.
Vejamos os fatos: a Carne Fraca mais de mil policiais federais para cumprir 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.
Segundo a PF, foram dois anos de investigação. Agora começam dúvidas: a extensão da corrupção não era ampla como divulgada no estouro do escândalo. Se havia tanta carne sendo consumida por consumidores, até em escolas, por que a PF não interrompeu a sangria antes?
Que fique claro: não venho aqui para condenar a PF. Deixo meu apoio para que seja investigado tudo que mereça a lupa cuidadosa dos nossos polícias. Chamo a atenção para nosso movimento desenfreado de querer opinar sem elementos suficientes para formar uma opinião.
Vivemos a era da verdade e transparência confrontada pelo efêmero e anonimato nas redes. A pausa para respirar, dedicar a atenção e compreender a questão são fundamentais para o real aprendizado. Quando munidos de conhecimento, somos realmente capazes de transformar com atitudes e influenciar nosso círculo de contatos.
Precisamos nos preparar melhor como jornalistas e também como consumidores de notícias para fazer valer a nossa voz.
O escândalo da carne revelou um atropelo dos fatos na disputa por holofotes, e, mais imporante, ajudou o consumidor a ter mais consciência do ciclo completo dos alimentos que chegam à mesa dele. E que a confirmação da existência de corrupção no processo nos ensine a estudar e participar da vida política e cobrar com pontaria mais precisa os nossos governantes.
Aprendemos que Carne Fraca tem muito mais a ver com seres humanos que com vaquinhas e boizinhos. Cada um de nós devemos cuidar melhor de respirar antes de julgar e espalhar fatos duvidosos na era da mentira de perna curta na velocidade da luz.
Aproveito o tema para convidá-los para o lançamento do livro Basta de Cidadania Obscena que lanço com meu querido Mario Sergio Cortella na Livraria Cultura da Paulista, nesta quinta-feira, às 19h. O evento é de entrada livre e gratuita para discutirmos com a moderação da colega de CBN Fabíola Cidral os dilemas obscenos da cidadania em tempos digitais. Ficou interessado? Clique aqui para saber mais e confirme sua presença!
Por falar em convites e conhecimento, lancei ontem meu primeiro vídeo da série #Descomplicado no meu canal no Youtube. “O que é a Internet” abre a série de conteúdos explicado de um jeito simples e divertido as dúvidas que você sempre teve ou aquelas que nem imaginava que tinha. Todos os domingos, às 11h, um conteúdo novo no www.youtube.com/marcelotas. Inscrevam-se lá!