Brasil é líder em consumo de pornografia e assassinato a pessoas trans

Por Marcelo Tas

O Brasil ocupa a liderança mundial em assassinato a transexuais e em consumo de pornografia transexual. Qual o sentido disso tudo? Um caldeirão de ódio e tesão temperado por um assunto ainda velado por aqui. 

Ontem, 29 de Janeiro, foi celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Em Copacabana, no Rio de Janeiro, um grupo de militantes fincou 144 cruzes na areia – uma para cada transexual ou travesti morto no ano passado. O número contabilizado pela Rede Trans Brasil é até mais otimista do que os dados da Transgender Europe, uma ONG europeia voltada às pessoas do gênero, que divulgou 166 casos no Brasil apenas no primeiro semestre de 2016. Os números se tornam frágeis até mesmo por uma questão de definição do motivo das mortes e registro da condição trans da vítima. Quando colocamos o Brasil na balança mundial, o peso da nossa violência fica claro. A Transgender Europe contabilizou 123 casos de mortes violentas contra transgêneros no Brasil em 2015 liderando a lista. Em segundo lugar ficou o México com 52 registros. 

O site pornô RedTube divulgou no ano passado que os Brasileiros são os que mais buscam vídeos com o tema. A contradição dos fatos revela que ainda temos muito que conversar. 

Há alguns anos, tenho dialogado publicamente sobre o assunto com meu filho Luc. Ele é trans com toda documentação atualizada para o gênero masculino, primeiro nos EUA, onde vive e trabalho; e depois, com muita paciência e recursos extras, no Brasil. Como um pai orgulhoso do meu menino, compartilho com vocês o primeiro vídeo do canal dele no Youtube dizendo o que pensa sobre a #VisibilidadeTrans.

Na contramão dos dados trágicos, o Brasil começa a cultivar algumas conquistas. Desde 2008, o SUS realiza cirurgias de redesignação sexual além do processo de acompanhamento psicológico, terapia hormonal até a cirurgia no órgão genital aos que se interessam pela intervenção. O atendimento à população transexual pelo sistema público de saúde tem aumentado. Entre 2015 e 2016, foi registrado o aumento de 32% nos atendimentos ambulatoriais contabilizando no ano passado um total de 4.467 pacientes.

Precisamos estar atentos à violência a todo grupo alvo de barbaridade. Seja ele de negros, indígenas, moradores de rua, mulheres ou qualquer outra comunidade vítima da ignorância. Ainda dependemos de vários marcos no nosso calendário para refletir sobre a violência velada que ainda assusta setores da sociedade que insistimos ignorar. A palavra para combater o preconceito é Visibilidade e convivência, inclusive com quem pensa diferente e ainda não entende ou se incomoda com este assunto. Que a hashtag #VisibilidadeTrans nos ajude a pensar qual papel podemos ocupar para contribuir com o diálogo. 

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