Estou há uma semana no Rio. Diante da gritaria geral contra os jogos olímpicos, acordei pensando: será que toda cidade olímpica sofre bullying? Por aqui, a decoração temática dos jogos divide espaço com as notícias apocalípticas. Não é a primeira vez que vejo isso acontecer. Já participei de quatro olimpíadas antes da tocha chegar ao solo brasileiro. Até as modalidades disputadas mudam de uma competição para outra. O clima de vai-dar-tudo-errado é sagrado. Creio que o sentimento mais próximo é o trauma da “reforma que nunca acaba”.
Nem tudo é faniquito, claro. Há razões de sobra para reclamar. O que me chama atenção é a revolta injusta que sempre ronda os jornais e os haters das redes. Veja só. A Polícia Federal está há um ano e meio monitorando possíveis embriões de ataques terroristas durante os jogos. Os caras conseguem deter mais de uma dezena dos “defensores da charia”, um grupo virtual que estaria tramando atentados no Rio, e foi a Polícia Federal quem sofreu bullying dos mais ansiosos.
Paradoxalmente, continuamos aflitos sobre a segurança para a Olimpíada. Lembro do sistema de segurança para a Londres 2012 sendo chamado de “grande fracasso” às vésperas dos jogos. Um dos argumentos era que os agentes não tinham um inglês adequado – isso na Inglaterra!
Para os brasileiros revoltados com as faixas dedicadas ao trânsito de carros da Família Olímpica, mais uma recordação. Londres e a maioria das cidades sede onde estive, também tinham vias exclusivas. Prática comum para garantir a execução de grandes eventos. Não é exclusividade nossa.
O que não dá para aceitar são os agentes da Força Nacional estarem alojados em prédios do Minha Casa, Minha Vida controlados por milícias que simplesmente monopolizam o serviço de Internet. Essa faixa exclusiva da bandidagem é uma via que poucas – ou nenhuma olimpíada – deve ter visto.
Minhas lembranças de Atlanta 1996 pode ser a luz no fim do túnel. O investimento feito na área central, pouco valorizada da cidade, foi alvo de várias críticas. Recentemente, voltei a Atlanta e pude comprovar que a área se tornou o embrião do atual renascimento urbano da cidade. Foram 20 anos para o legado dos jogos subir no pódio.
Fofoca olímpica para vocês. Estive no Parque Olímpico esta semana e comi no super bem servido bandejão pela bagatela de R$ 98,00 o quilo. Facada no bolso para uns, oportunidade para os mais astutos. Bem pertinho dalí, quentinhas estão sendo vendidas a R$ 10. A bebida sai de graça para quem paga em dinheiro.
Acompanhamos ontem a chegada da delegação australiana que se recusou se hospedar na vila. O prefeito possivelmente sob efeito de ansiolíticos, ou falta deles, ofereceu um canguru para alegrar a equipe que respondeu com um direto no queixo do engraçadinho: ao invés do animal, preferem um encanador para resolver os problemas hidráulicos dos apartamentos.
Do outro lado da varanda, o remador Neo Zelandês Mahe Drysdale deu um toque nos colegas da Oceania. Lembrou que é quase impossível encontrar tudo perfeito quando os hóspedes chegam às 5h da manhã em uma inauguração da Vila Olímpica. Entusiasmado, publicou várias fotos lindas da vista do quarto dele como esta acima.
Entro na contagem regressiva para os jogos remando com o Drysdale. É emocionante ver o Brasil sediar os jogos pela primeira vez na América do Sul. Na minha primeira visita ao Parque Olímpico, me senti iluminado pelos olhos brilhantes dos voluntários de todas as idades, animados e preparados para levar duas semanas da maior festa do esporte mundial para todo planeta.