Para uma realidade em alta velocidade, ficamos vulneráveis a novas formas de mentira igualmente acelerada. Precisamos nos preparar.
Na última sexta-feira, o Facebook anunciou ter descoberto uma operação internacional que espalha a opção curtir e comentários falsos para ganhar amigos e enchê-los de spam. Vinham de Bangladesh, Indonésia e Arábia Saudita. A poucos dias da eleição presidencial na França, o Facebook anunciou a suspensão de 30 mil contas fictícias na rede social. A ideia é combater spam e notícias falsas.
Na quinta feira, véspera de feriado, tivemos mais um caso exemplar de uma mentira que deu a volta ao mundo num clique.
Um tal jornal Mississipi Herald publicou um artigo com a data 13/04/17 sobre um suposto casal que descobriu ser irmãos gêmeos ao fazer teste de DNA em uma clinica de fertilização.
A matéria viralizou durante o feriado pelo mundo. Até que veio à tona de que a não só a notícia era falsa como o próprio jornal. As notícias mais antigas do Mississipi Herald datam de 10 de abril passado. O registro do domínio do site é de 2 de novembro de 2016, a partir de Ontário, Canadá. O Mississipi Herald não consta na lista do Google News.
Veículos tradicionais como Dailymail, e Mirror caíram na cilada reproduziram o conteúdo. No Brasil, o jornal Extra e o Estado de Minas, deram a notícia como verdadeira. O Estado de Minas já editou a página no dia 16 revelando a farsa e pedindo desculpas. Os nossos colegas do Extra ainda não retiraram a notícia que continua lá como verdadeira.
O Facebook está caminhando para 2 bilhões de usuários. É bom dizer que notícia falsa é um ótimo negócio para quem cria a notícia. A matemática é simples: quanto mais levam acesso para seus sites, mais faturam com anúncios programáticos. O conteúdo mesmo da página fica em quinto plano se comparado com a importância de tráfego na página. Uma conta que incentiva a crianção dos caçadores de cliques. Sites criados com várias iscas de conteúdo para fiscar os usuários mais curiosos. Para isso, usam títulos chamativos e escandalosos para fisgar peixinhos na rede e até os tubarões da mídia, como conseguiu o fake Mississipi Herald.
Outro negócio que vai muito bem é o de checagem de notícias. Um levantamento publicado pelo “Duke Reporter’s Lab” registrou 114 times trabalhando para checar fatos em 47 países. Em 2014, haviam 44 agências de checagem. Um dos fatores que incentivou o crescimento do setor foi o boom de fake news durante campanha do Trump. O Brasil contabiliza três: Aos Fatos (Brasília); Lupa (RJ) e Truco (SP).
O mundo está dividido. A liga da verdade duelando contra os pinóquios oportunistas e suas metralhadoras de mentiras. O que não podemos nos esquecer é que nesta luta, não estamos só de ouvintes. Precisamos assumir nosso papel e nos responsabilizar quando abrimos uma informação e, principalmente, levamos o conteúdo pra frente compartilhando nas nossas redes ou comentando nas mesas de bar.
Os criadores dos algoritmos estão estudando para melhorar o serviço. Nós, leitores e produtores de conteúdo, precisamos fazer o mesmo.