Será um sinal de progresso na terra dos tupiniquins? Até outubro deste ano, o Brasil deve contar com 208 milhões de smartphones – valor que equivale à população do País. A projeção feita pela FGV ainda estima 236 milhões de celulares inteligentes até os próximos dois anos.
Convenhamos. Ligar mesmo para um número de telefone é o que menos fazemos com os nossos aparelhinhos. Desde 2000, os celulares permitem acessar a Internet. De lá pra cá, o serviço se popularizou e muito do que fazíamos com nossos computadores passou a ser feito na palma das nossas mãos.
Não é à toa que enquanto o volume de venda de smartphones só aumenta, o comércio de computadores desacelerou 15%. Um smartphone para cada brasileiro não quer dizer que todos os brasileiros terão acesso a um deles daqui a seis meses. Isso porque a desigualdade por aqui também afeta a democratização da tecnologia.
Enquanto alguns contabilizam dois ou mais celulares em casa, outros seguem buscando como comprar um aparelho baratinho para inaugurar seu primeiro uso. Ainda assim, a queda do valor dos aparelhos permite que o sonho vire realidade para muitos brasileiros que nem sonhavam comprar um celular décadas atrás.
Em 1998, quando celebrávamos a linha de telefone digital ocupando espaço no mercado dos tijolões, o aparelho mais barato custava o equivalente a R$ 2.192,00 com as correções monetárias aplicadas. A fortuna investida para levar um Motorola UltraTAC 700A, com uma memória que permitia salvar 53 números na agenda e duas horas de bateria. Quem quisesse um modelo menor com o dobro de capacidade na agenda, precisaria desembolsar mais de R$ 5 mil reais para levar o Qualcomm Q800.
Quase 20 anos depois, com 10% do valor do tijolão mais barato em 1998, você consegue comprar um celular com acesso a Internet e entrar nos números de pesquisa da FGV. De mãos dadas com o acesso à tecnologia, veio o vício e a compulsão pela Internet na palma da mão.
A Veja Rio desta semana fez uma coletânea de números de diversas fontes revelando nosso vício. Oito a cada dez pessoas dormem com o smartphone perto da cama, enquanto 54% diz ter pavor de passar mal na rua e não ter um celular. Mesmo sem passar mal, 35% confessa mexer no aparelho a cada dez minutos.
A combinação entre a democratização do acesso e vício no consumo é oportunidade para o marketing e desafio para quem precisa de atenção na vida real, como é o caso dos professores ou até mesmo dos pais quando tentam chamar seus filhos para o jantar e parece mais fácil enviar uma mensagem pelo Whatsapp do que ser ouvido.
Vamos ajustamos nossos hábitos. Na mesma semana que celebramos o marco de um celular por habitante no Brasil, o chefão do Facebook aparece na minha timeline para fazer uma previsão bem mais impactante. Em uma apresentação no F8 transmitida ao vivo em sua página, Mark Zuckerberg fez sua aposta para 2026. Segundo ele, o mundo inteiro terá acesso à Internet, mas smartphone será coisa do passado. As telas como imaginamos hoje vão desaparecer. A interação com o virtual será por objetos do nosso dia a dia, como óculos, carro e até mesmo o próprio cérebro como device.
Enquanto este cenário não chega, fui surpreendido com um cantinho isolado que frequento há mais de 15 anos na Serra da Mantiqueira. Há cinco anos não havia energia elétrica, hoje chegou a novidade que tem dado o que falar na montanha: a chegada da Internet a preço e qualidade satisfatória.