Não sei se vocês sabem, mas para virar profissional de comunicação eu me formei em Engenharia. Estudei na Politécnica da USP, onde voltei na semana passada para participar do evento bienal do “Amigos da Poli”.
Sobre esta amizade com a faculdade que quero falar. Ex-alunos se uniram para devolver simbolicamente em forma de doação o investimento que recebeu na universidade pública.
Com menos de 2% de ex-alunos colaboradores, o fundo bateu este ano 9 milhões de reais com as doações. O patrimônio é investido no mercado financeiro e o rendimento é usado para apoiar projetos de alunos. Não há nada que ver com privatização do ensino. A proposta é fomentar ações que provavelmente não teriam gás financeiro se não fosse uma forcinha de doadores.
Na noite da última quinta-feira, vimos a demonstração de três projetos apoiados. Desde foguete de longo alcance do Projeto Júpiter até o desenvolvimento de órteses e próteses com impressora 3D para amputados.
Os norte-americanos começaram a encher o cofrinho bem antes dos nerds da Poli-USP. A Universidade de Yale começou a abastecer o porquinho há 65 anos. Pelo menos 35% dos ex-alunos são colaborares atingindo o patrimônio de 25 bilhões de dólares.
O fundo amigos da Poli é o mais antigo do Brasil – desde 2012 – e está inspirando outros fundos no País. A FGV-Direito conquistou o patrimônio de R$ 1,4 milhão que garante a ajuda de custo de 850 reais por mês a 16 alunos bolsistas. O fundo da Insper garante bolsa e ajuda de custo para 78 alunos que recebem mil reais por mês a partir do rendimento dos R$ 4,6 milhões dos investidores.
Já os ex-alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica adotaram o modelo de financiamento coletivo para patrocinar projetos de alunos. Em 2015, a turma do ITA apoiou 15 projetos com R$ 275 mil doados.
Registro com muito entusiasmo nossos primeiros passos da cultura de reinvestir nos espaços onde estudamos. No meu caso, que estudei em universidade pública, e agora posso devolver para a escola onde me formei um pouco daquilo que ela me deu. O que me capacitou entrar para o mercado e gerar riqueza.
Por outro lado, diferente do cenário nos EUA, as leis brasileiras são entraves para novos doadores. Especialmente quando fazemos as contas dos impostos e encargos. A Poli-USP precisou ajustar o estatuto para permitir a iniciativa e evitar ter que devolver o dinheiro ao doador como já aconteceu por questões burocráticas.
Ficam minhas boas-vindas à nova mentalidade.