1936. TV em cores era considerada coisa do futuro. A palavra “robô” levava nosso imaginário para um cenário bem diferente do significado atual.
Nesta época, máquinas chegaram para tirar o emprego do pessoal que pegava no pesado. Pânico que Charles Chaplin registrou no “Tempos Modernos” representando um operário enfrentando as linhas de montagem.
Nos anos 80, surgiu a idéia de máquina inteligente. Mas não avançou muito. O pessoal queria simular o cérebro humano, o tal do cérebro eletrônico. Não rolou.
Agora, a brincadeira é diferente. Vivemos a era das redes neurais. Máquinas que aprendem com o erro e rapidamente distribuem o que aprenderam para outras máquinas. É o Machine Learning, o aprendizado de máquina, ou do Deep Learning, quando os algoritmos buscam aprender literalmente como nossos cérebros. Vivemos uma aceleração na automação nunca imaginada nem nos sonhos mais loucos dos futuristas.
A universidade de Oxford estima que nos próximos 25 anos, mais da metade, 57% dos empregos, podem ser tomados por robôs.
Diante da ameaça, aqui no Brasil, um grupo resolveu reagir. Numa conversa, dois amigos, Alan Chung e Caio Andrade, ambos publicitários, cansados de ouvir que os robôs vão tirar empregos das pessoas, resolveram criar um experimento para tirar o emprego dos robôs!
A ideia virou um manifesto virtual. Os primeiros robôs que entraram na mira de ataque dos publicitários foram os chatbots – robôs virtuais criados para responder automaticamente em janelas de bate-papo.
Começaram com um conceito básico: interagir com humanos de um jeito que os robôs ainda não são capazes. O produto é simples. Basta acessar o site chathuman.org e mandar a mensagem que quiser na tela de bate-papo.
Um dos 36 humanos voluntários receberão seu texto e responderá quase que imediatamente. As respostas não seguem nenhum algoritmo padrão. À moda bem humanizada, você pode pedir sugestões de funks brasileiros ou uma dica sobre qual roupa usar no encontro de hoje à noite.
Sem filtro ou bloqueio, o diálogo é livre e bem humorado. Em menos de um mês de site no ar, a brincadeira já provocou quase 600 diálogos com pessoas de praticamente todos os cantos do mundo.
Alan Chung, travestido de robô-humano, já deu dicas sobre como sair de um relacionamento chato para uma moça de Estocolmo desiludida amorosamente.
Os chatbots não deixaram barato. Como contra-ataque, uma especialista em bots criou um robô virtual para interagir com os robôs-humanos.
Antes que chegue a próxima guerra mundial entre humanos e bots, humanos especialistas em robôs estão descobrindo formas curiosas para envolver a tecnlogia no dia-a-dia dos mortais.
Com ajuda de algoritmos e fãs do mundo nerd, o Watson da IBM virou um dos jurados da Comic Con de Recife deste ano. O evento realiza a tradicional competição entre cosplayers. Apaixonados pelo universo geek se veste e comporta como seus personagens favoritos. O mais parecido com o original leva o título.
Watson, na verdade, é um programa de inteligência artificial da IBM. Para participar do juri do concurso de Cosplay, ele usou imagens dos personagens que os competidores buscavam imitar e comparou com os candidatos caracterizados.
Da fantasia para uma realidade nada mágica, chatbots também são criados para ajudar humanos. A agência J. Walter Thompson criou o perfil “Amigo Anônimo” no Facebook para abordar o alcolismo na rede social.
Qualquer pessoa que enviar uma pensagem para este usuário receberá uma resposta automática com orientações e histórias inspiradoras sobre como abandonar o vício pelo álcool. A iniciativa provocou o aumento de 1.300% de pedidos de ajuda para o serviço de Alcoólicos Anônimos – AAs.
Se rivais ou parceiros, os robôs já assumem um papel relevante na nossa rotina. Para evoluir, eles usam o funcionamento do nosso cérebro como referência de aprendizado. Antes que eles descubram como controlar nossa massa encefálica, chegou a hora dos humanos se unirem nesta batalha para estudar e questionar o avanço da tecnologia digital.