Menino Ferreira Gullar: lição de vida ambulante

Por Marcelo Tas

Todo dia é dia de poeta. Hoje, em especial, de Ferreira Gullar. Todas as homenagens prestadas ao maranhense que nos deixou no domingo mostram que, ao envelher, Gullar foi ficando cada vez mais criança. Isto é, mais sábio. Não só isso. Nas fotos publicadas, vemos um homem que se torna cada vez mais moço, divertido e suave com a passagem do tempo.

Enquanto o Brasil se despedia de Gullar, a Avenida Paulista foi ocupada ontem por militantes que miraram o Congresso em seus ataques com discursos contrários à impunidade. Inclusive com tomates jogados em fotos de Renan Calheiros, o presidente da câmara Rodrigo Maia e o senador Roberto Requião. 

Curiosamente, o sábio poeta parece ter deixado uma mensagem aos ilustres senadores em uma de suas crônicas. “Ninguém representa maior ameaça à liberdade do outro do que quem se considera dono da verdade.” Em tempos quando discussão política é palco para convictos intransigíveis, Gullar é preciso ao dizer que “só é sectário quem simplifica as coisas, ignora a complexidade. Lidar com a complexidade é desconfortável. É mais cômodo dizer: aquele sujo é um imbecil”

Roberto Requião ontem, diante das manifestações, escreveu em seu Twitter mensagens para desqualificar o movimento. Como um simplista, um homem covarde e assustado, publicou provas de não saber lidar com a complexidade do cenário político. Ou talvez com a sua imagem sendo banhada por tomates e vaias. Chamou os manifestantes de mentecaptos e manipulados. Recomendou alfafa para equinos que transitam em passeatas non-sense.

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Apesar de deletados, as mensagens foram eternizadas pela arte do print screen.

Reprodução Twitter

A manifestação foi um passo adiante, apesar de não ser valorizadas por quem não fez parte da comissão organizadora da “festa”. O recado uníssono foi a importância da continuidade da operação Lava Jato. O presidente também não ficará longe dos holofotes. Os próximos passos de Temer não serão fáceis. Especialmente quando estiver nas mãos dele vetar ou não as medidas do congresso. 

Voltemos ao poeta Ferreira Gullar que tanto nos deixou para ler e admirar. Apesar de se manter ativo, inclusive com uma coluna na Folha de S. Paulo até a véspera de sua morte, aos 86 anos, muitos brasileiros ainda não conheciam seu trabalho. Fato que ele mesmo ironizou na crônica “O Famoso Desconhecido”. No texto, separa os famosos que são reconhecidos na rua e todos sabem o que estes fazem, como os atores e cantores. Por outro lado, existe a categoria na qual ele se incluía dos famosos que são reconhecidos, mas não se sabe direito o por quê. “(…)quem definiu muito bem todo esse fenômeno foi um bêbado que, ao me ver passar, gritou: –Ferreira Gullar! Famoso e eu não sei quem é!”

Que saibamos enfim quem foi Ferreira Gullar para nos deleitar e aprender sobre tolerância e democracia com suas palavras. 

Ofereço a vocês “O Trenzinho do Caipira”, de Heitor Villa Lobos, na voz de Ney Matrogrosso, com letra dele. Obrigado, Ferreira Gullar!


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