2016 virou um adjetivo para coisa ruim. Tem quem acorde gripado ou abandonado pela amada e diga que está se sentindo “meio 2016”. Claro, a vida não tá fácil para ninguém. Só que 2016 é apenas um número do calendário. Chegou a hora de virar a página, turminha. Fechamos o ciclo de 365 dias com tragédias e contradições políticas. Como hoje foi minha última participação na rádio CBN do ano, volto em 02/01/2017, encarei o papel de advogado de 2016 para mostrar que o ano nos fez muito bem também. Rolou muita coisa boa sim.
O aprendizado começa sempre pelas crianças. Natal é tempos de cartinhas para Papai Noel e o brinquedo que figura na lista de mais pedidos são os Trash Packs, personagens colecionáveis criados na Austrália em 2011. Os bonequinhos têm o lixo como tema. Os carrinhos viram caminhões de lixo e esgoto. Apesar do preço do brinquedo não ser lá uma barganha, a riqueza da brincadeira está justamente em reconhecer o que seria descartado em algo valioso. Por que não sonhar em ter um sistema de compostagem desde pequenininho?
Ainda na pegada de sair do lixo ao luxo, vamos à lista de quem lacrou o temido ano de 2016:
O Ministério Público e a Polícia Federal merece abrir a lista dos lacradores. Quando imaginaríamos que os bandidos de colarinho branco, que viviam no luxo devido às falcatruas, sentariam à ceia de Natal temendo encarar uma cela no ano que vem? Ou até mesmo governadores que repousaram sob os sedosos lençóis de Bangu como o excelentíssimo Sérgio Cabral. Além de começar uma faxina na política e grandes empresas, deram um show de criatividade com nomes de operações. Operação Lava Jato, Timóteo, For All, Salve Jorge, Chequinho, Xepa e tantas outras que agitaram os tuiteiros mais comédias da Internet. Sem se esquecer dos apelidos hilários dados aos investigados, como Romero Jucá que virou “Caju” (Jucá ao contrário), Geddel Vieira Lima virou “Babel”, os lábios balbuciantes de Heráclito Fortes o batizaram de “Boca Mole”, o charme do ex-deputado federal Inaldo Leitão o carimbou de “Todo Feio”. A lista de bullying é longa.
Outro lacrador é o Papa Francisco. Ele que fez 80 anos ontem, virou notícia mais uma vez depois de comemorar o aniversário com moradores de rua do Vaticano. Durante 2016, o bom velhinho fez e aconteceu. Ordenou cardeais de países que nunca tinham assumido tal posto como Lesoto, Papua-Nova Guiné, Bangladesh e Malásia, autorizou padres a perdoar o aborto e instituiu o dia mundial dos pobres sacudindo a cuca dos mais retrógrados. De tão lacrador, a mensagem de Natal dele em 2014 voltou a liderar a lista de vídeos mais compartilhados pelos tiozões no Whatsapp neste fim de ano quando ele citou as 15 doenças que rondavam o Vaticano. Entre elas, a doença da fofoca, da acumulação material – uma alfinetada à própria cúpula da igreja, o Alzheimer espiritual e a sensação de imortalidade que alguns membros da nata do Vaticano estaria vivendo.
Mais um fator que calou a boca das invejosas foi o sucesso das Olimpíadas e Paralimpíadas no Rio. Apesar da lama e caos, o Brasil mostrou para o mundo que sabe organizar muito mais do que festa de carnaval impressionando até mesmo os brasileiros que estavam pra lá de descrentes com a organização do evento.
E entre tantas discórdias políticas no Brasil e no mundo, a velha democracia arrasou neste ano. Donald Trump foi eleito nos EUA o que chocou meio mundo depois de atropelar as pesquisas e expectativas. Até aí, ok. O impressionante foi a aula de modelo representativo e convivência com a opinião contrária que o resultado da eleição deu ao ocidente. Retomo a fala de Churchill quando acusou a democracia como a pior forma de governo, “com exceção de todas as demais”. Então vamos celebrar a democracia na qual podemos criticar, colocar o bloco na rua, mesmo que passemos por erros de escolha. Muito melhor do que governos que silenciam opiniões contrárias e não convidam a população às urnas.
Aprendemos também que tragédias e erros humanos podem fazer brotar da lama belas flores de lotus. Assim como aconteceu com a queda do avião da Chapecoense desabrochando uma onda de amor e unindo Brasil e Colômbia após tamanha demonstração de empatia e solidariedade do povo colombiano pelas vítimas da tragédia. Um evento trágico que proporcionou um abraço coletivo com braços do mundo inteiro para confortar o vazio deixado pelas 71 vítimas.
Voltando à relação dos lacradores, as mulheres não poderiam ficar de fora. Muito menos a própria Mulher do Ano, como elegeu a Billboard no início de dezembro. Quem levou o título foi Madonna que surpreendeu com o discurso firme e emocionante quando contou ter sido estuprada e levantou a merecida bandeira do empoderamento feminino lembrando que as mulheres ainda estão muito atrás dos homens sendo privadas em suas personalidades e ainda vítimas de sexismo e misoginia.
Para fechar a lista ao som do extra-terrestre David Bowie, o recado da vez é que somos pequenos ETs moradores deste planeta que precisam fazer da sua vida um objetivo de enfrentar o próximo ano. Temos uma tarefa pela frente, estamos só no comecinho.