“Eu odeio a palavra ‘deficiente’, precisamos parar de falar nisso”, protestou Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, em entrevista ao Tasômetro com pontualidade literalmente britânica. Durante toda conversa, se manteve sempre à procura do lado positivo das questões.
O ex-atleta trocou as quadras de basquete de cadeira de rodas para participar de outra disputa: elevar as boas energias contra a negatividade. A regra do jogo é simples: desviar a atenção das limitações e focar nas habilidades dos atletas. Para conquistar seu objetivo, ele aposta na nossa mudança de perspectiva após acompanhar de perto os Jogos Paralímpicos no Rio.
“Precisamos sempre ver o lado positivo, vibrar boas energias”, propôs entusiasmado o britânico que divide a paixão pelo esporte com a jardinagem e bons vinhos.
Com o otimismo na mira, Philip Craven acredita que as Paralimpíadas no Rio serão combustível de mudança para as lideranças políticas construírem um Brasil mais acessível. Para ele, acessibilidade vai muito além de adaptações pontuais para cadeirantes. “A proposta é pensar que todos os lugares devem ser acessíveis para todas as pessoas. Desde um cadeirante, cego, surdo até uma mãe com bebê no colo”, explica.

O ex-atleta e presidente do Comitê Paralímpico Internacional joga atualmente no time da positividade: “precisamos ver o lado positivo”.
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O futuro dos Jogos Paralímpicos
A primeira competição oficial dos Jogos Paralímpicos aconteceu na cidade de Roma, em 1960, quando 17 países disputaram oito modalidades lideradas pela anfitriã italiana que deixou em casa 80 medalhas. Depois de 56 anos, o Rio de Janeiro já exibe a evolução do evento nas estatísticas. Vão desembarcar no Brasil 176 países para competir 23 esportes paralímpicos. Desde a primeira realização, já foram distribuídas mais de 18 mil medalhas – 229 conquistadas por brasileiros que participam das Paralimpíadas desde 1972.
Perguntamos ao Phil como ele imagina os Jogos Paralímpicos daqui a cinquenta anos. “Não estarei mais aqui para dizer se acertei minha aposta”, brincou o senhor de 65 anos. Suas expectativas contam com a propagação do movimento paralímpico, especialmente no âmbito regional, para atender interessados de todos os lugares. Para ele, o próprio conhecimento do esporte paralímpico vai derrubar o rótulo de exótico para ser simplesmente um esporte. “Vai deixar de ser novidade. Afinal, esporte significa tanto o olímpico quando o paralímpico. Não tem diferença.” Sobre o aumento de atletas, não tem dúvida. “Vamos ter cada vez mais pessoas com restrições físicas e intelectuais praticando esporte”, garantiu na sua previsão.

Sir. Philip Craven lança sua aposta sobre o futuro dos esportes paralímpicos. Para ele, as modalidades adaptadas não serão mais novidades. Na foto, atleta paralímpica lança o dardo em evento teste realizado no Engenhão em maio de 2016.
Ludmila Tavares / Tasômetro
SIR. PHIL CRAVEN, O NOBRE PRESIDENTE
Presidente do comitê internacional desde 2001, sua contribuição para o esporte paralímpico foi reconhecido pela Rainha Elizabeth II – e duas vezes. Depois de indicado como Membro da Ordem do Império Britânico em 1991, a monarca o honrou como Cavaleiro Celibatário em 2005, o mais antigo tipo de cavaleiro britânico. São essas nomeações que anexam à sua identidade o título “sir”. Charlie Chaplin, Alfred Hitchcock e Tim Berners-Lee, inventor da World Wide Web, são alguns membros da seleta lista de nobres senhores.

Sir. Phil acompanha a rainha Elizabeth II e o príncipe Edward na cerimônia de abertura das Paralimpíadas de Londres.
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O QUE OS ATLETAS QUEREM SABER
Para continuar nossa conversa com Sir. Philip Craven, perguntamos a três atletas paralímpicos o que eles gostariam de saber do presidente do comitê internacional – sem censuras.

O velocista Gustavo Araujo pergunta a opinião do presidente sobre atletas paralímpicos que também tentam qualificação nos Jogos Olímpicos.
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O primeiro foi Gustavo Henrique Araújo, velocista mineiro que compete na classe T13, grupo de baixa visão. O recordista e campão mundial paralímpico ainda sonha em se classificar também para as Olimpíadas. Sua dúvida é: será que o presidente do Comitê Paralímpico considera isso um problema?
Phil disse não se preocupar com o assunto, pois são poucos atletas paralímpicos que têm condições de se qualificar também para as Olimpíadas devido às próprias limitações físicas. Mesmo assim, afirma não incentivar nem contra-indicar. “Isso vai da decisão do atleta. Como presidente do comitê, meu interesse está apenas no que acontece dentro dos Jogos Paralímpicos”. Para ilustrar, lembrou da arqueira iraniana Zahra Nemati classificada para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Concluiu deixando claro que sua opinião não representa uma posição oficial do Comitê.

O atleta de basquete de cadeira de rodas João Paulo Nascimento se preocupa com o fator de jogar em casa. Ajuda ou atrapalha?
Reprodução Facebook João Paulo Nascimento
O goiano João Paulo Nascimento, atleta de basquete de cadeira de rodas classe 4.5, pergunta se competir em casa é um fator que ajuda ou atrapalha os atletas brasileiros.
“Depende de cada pessoa, o que posso dizer é que ganhar uma medalha no próprio país é uma das coisas mais incríveis que podem acontecer na vida”, estimulou Phil. Alertou ainda que os Jogos Paralímpicos Rio2016 marcam uma oportunidade única de representar o Brasil dentro de casa em um evento internacional de tanta repercussão. Para acalmar a ansiedade do atleta, lembrou que a torcida vai vibrar e apoiar muito os brasileiros. Quem estiver preparado e confiante pode transformar esse fator em uma mãozinha para vestir a medalha de ouro.

Yohansson do Nascimento quis saber o que toca o coração do presidente do Comitê Paralímpico Internacional.
Ludmila Tavares / Tasômetro
Para fechar, o velocista Yohansson do Nascimento, medalhista de ouro na classe T46, perguntou o que mais toca o coração de Phil no espírito paralímpico. Antes de responder, o presidente do comitê suspirou emocionado. Lembrou dos quatro valores paralímpicos: coragem, inspiração, igualdade e determinação. É com este último que ele se identifica mais.
“O atleta que se determina como alguém capaz de se tornar um campeão paralímpico e sua fonte de energia é a positividade, sem dúvida será vitorioso. E vitória, neste caso, não é vestir uma medalha, mas ser um campeão na vida.”
O segredo para ele é fazer aquilo que nos desperta paixão, definir os sonhos e ter determinação para segui-los.
É com a suplementação de boas vibrações do Sir Philip Crave que iniciamos a contagem de 100 dias para os Jogos Paralímpicos Rio2016 que acontecem entre 7 e 18 de setembro nas mesmas instalações das Olimpíadas. Quem quiser torcer de pertinho, aproveite os mais de dois milhões de ingressos à venda a partir de R$10 no site rio2016.com/paralimpiadas/ingressos. #TemQueIr!