Paralímpico está a pouco mais de 1 segundo de Bolt

Por Marcelo Tas

100 metros é uma distância equivalente a 25 carros populares enfileirados. Quanto tempo você levaria para percorrer essa reta? Usain Bolt, velocista jamaicano considerado o homem mais rápido do mundo, cravou o recorde mundial em 9.58 segundos. Se ao lado dele estivesse o atleta paralímpico brasileiro Yohansson Nascimento, que sem as duas mãos compete no grupo de atletas amputados ou com deficiência nos membros superiores, a diferença seria de apenas 1.36 segundo. Só três carrinhos atrás.

Os jogos paralímpicos vão muito além das histórias de superação. O alto rendimento dos atletas das modalidades adaptadas mantém os resultados bem perto dos marcos dos esportistas olímpicos. 

Image title

Yohansson Nascimento representou o Brasil pela primeira vez nos Jogos Paraolímpicos de Pequim-2008, quando levou prata no revezamento 4x100m e bronze nos 200m rasos. Nas Paralimpíadas de Londres-2012, conseguiu seu primeiro ouro, nos 200m rasos, além de outra prata, nos 400m rasos.

Ludmila Tavares / Tasômetro

Yohansson Nascimento foi o caçula da família. Há 28 anos, os pais alagoanos tiveram uma surpresa na sala de parto: o menino nasceu sem as mãos. Apesar da má formação, ele cresceu como uma criança normal. Sempre ativo, não abria mão de praticar esportes. Jogava futebol, pulava muro com amigos e até brincava de bola de gude. Em casa, não tinha moleza. Mesmo sem as mãos, ajudava nas tarefas domésticas lavando louça e não escapava das chineladas quando exagerava na molecagem.

Aos 17 anos, descobriu a corrida como uma alternativa para a sua carreira profissional. Não demorou um ano para ser convocado para a seleção brasileira onde tem vaga garantida até hoje. 

Image title

O atleta exibe sua sapatilha com travas usada nas competições.

Ludmila Tavares / Tasômetro

Para superar desafios nas pistas, o alagoano aceitou encarar uma rotina árdua. Trocou Maceió por São Caetano, no ABC Paulista. Para se concentrar no preparo físico rigoroso, seis da manhã é a largada para os treinos de oito horas por dia. “Não é fácil treinar todos os dias. O corpo dói e bate uma vontade de xingar todo mundo. Mesmo me esforçando tanto, a vitória na pista nunca está garantida. Tudo é decidido em menos de 11 segundos”, contou. O corpo só descansa aos domingos quando aproveita para assistir às séries do Netflix e passear com a esposa Talita no parque Ibirapuera, em São Paulo. 

Rápido dentro e fora da pista, não perdeu tempo para pedir a namorada em casamento. Em 2012, durante as Paralimpíadas de Londres, teve a ideia que virou notícia em vários países: se ganhasse a prova, tiraria um papel do bolso pedindo a mão da moça. Promessa cumprida. Cruzou a linha de chegada e revelou o cartaz em direção às câmeras. A menina que acompanhava a corrida ao vivo em Alagoas desabou diante do pedido ao som da gritaria emocionada da família que lotava a casa dos pais de Yohansson. A imagem ganhou tanto destaque na mídia quanto a medalha de ouro. 

Image title

Yohansson pediu a namorada em casamento após vencer uma corrida nas Paralimpíadas de Londres.

Reprodução Globo Esporte

“Meu lema é me divertir”, contou rindo. Enquanto dava a entrevista para o Tasômetro, não perdia a oportunidade de fazer piada com os outros atletas brasileiros que se preparavam para o evento teste dos Jogos Paralímpicos que aconteceram esta semana no estádio do Engenhão no Rio de Janeiro. 

Para quem sempre procura desculpas para iniciar uma atividade física, Yohansson deixa o recado: “Comece, meu amigo. Não deixe pra amanhã não”. Competitivo, não foge de um desafio. A disputa diária é contra os tempos que ele mesmo conquistou. Para completar sua coleção de medalhas douradas, sabe que precisa melhorar os tempos feitos em Londres. 

Image title

“Meu lema é me divertir”, comenta Yohansson que não tirou o sorriso do rosto durante a conversa com o Tasômetro.

Ludmila Tavares / Tasômetro

Além dos quase um segundo e meio que separam Yohansson do jamaicano Usain Bolt, existe mais uma diferença entre os dois velocistas: a fama. A falta de conhecimento sobre as modalidades adaptadas ainda deixa muita gente de fora da torcida. Apesar dos fãs que acompanham a carreira do alagoano, os atletas com deficiência ainda têm muito potencial para atrair a atenção dos apaixonados por esportes. 

Dos 3 milhões de ingressos disponíveis para os Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro, apenas 300 mil foram vendidos. Yohansson reforçou o convite para assistir aos eventos na capital carioca. “Eu aposto todas as fichas de quem vier não vai se decepcionar. É como comprar um bilhete premiado. Você chega com a certeza de que vai torcer e vibrar muito com as nossas vitórias”. 

Image title

Yohansson posa para foto com atletas da seleção brasileira de atletismo paralímpico.

Ludmila Tavares / Tasômetro

As Paralimpíadas acontecem de 7 a 18 de setembro nas mesmas instalações usadas para as Olimpíadas Rio 2016. Os ingressos são vendidos no site oficial [www.rio2016.com/ingressos] com preços que variam entre 20 a 110 reais. Venha torcer e se emocionar como eu com os atletas que já superaram todos os obstáculos.

Deixe seu comentário

Digite seu comentário aqui

Nenhum comentário, seja o primeiro!

Voltar ao topo