Diante da política do passado, fui ao Senado falar no Congresso do Futuro. Adianto o que encontrei por lá: medo, suor e ranger de dentes. 2016, estamos no final de um ano estranho. Trump é eleito o homem do ano. Há gritos por intervenção militar, outros recebem a delação da Odebrecht como vilã da história, falsas notícias assombram as redes… Uma coisa é certa: não há caminho reto, simples nem curto para a democracia plena.
O Congresso fecha o ano com a certeza de algo que não é mais novidade novidade: a político velha está ultrapassada, será varrida do mapa muito em breve. Quanto tempo? As ferramentas já estão aí. Agora, depende dos cidadãos.
A boa notícia do Congresso do Futuro é que alguns dos nossos representantes resolveram parar para ouvir. Inspirados em uma ação similar no Chile, o Congresso do Futuro dedicou dois dias no Senado Federal para discutir sobre democracia, comunicação e progresso no mundo digital e sustentável. Para isso, convidaram palestrantes da área da sustentabilidade, tecnologia, saúde, educação e comunicação. Foi aí onde entrei nesta história.
Vejam que mundo maluco. Eu falando para congressistas o que fazer para seguirmos com a democracia plena. A dificuldade maior foi saber por onde começar vendo tamanho atraso de pensamento. Com políticos analógicos, da era das cavernas, que sempre se esconderam atrás de discursos de marketeiros numa era de cidadãos digitais. Hoje, o cidadão com o telefone em punho, quer ver mudança agora. Não amanhã. O papo do futuro, na verdade, é discutir o hoje. Acabou o tempo de planejar sobre o momento que viveríamos no cenário dos Jetsons com carros voadores.
A cidade de Washington, nos Estados Unidos, já deu este passo. Criaram o Grade DC, uma ferramenta digital para o cidadão avaliar os serviços públicos assim como fazemos quando damos as estrelinhas ao motorista do Uber, o restaurante que visitamos ou o filme que assistimos. A base desta lógica repousa na palavra confiança. Matéria prima que, aliás, anda em falta no ambiente de carpete e ar condicionado do Congresso. Para conquistar credibilibilidade, é fundamental saber ouvir. Os políticos praticam esse esporte? Você sabe a resposta.
Para chegar a esse discernimento é fundamental o debate livre. Estamos ainda longe de chegar lá, mas estamos no caminho. O e-Cidadania, portal criado em 2012 pelo Senado Federal para estimular a participação dos cidadãos nas atividades legislativas, teve 100 milhões de acesso em 2016. Os mais de 300 eventos divulgados na página receberam 10 mil interações. As conversas por lá são não em vão. As ideias que recebem pelo menos 20 mil apoios são obrigatoriamente discutidas pelos senadores. Mais de sete mil propostas foram encaminhadas neste ano, sendo que doze parar na Comissão de Direitos Humanos e cinco receberam o parecer.
O papel do cidadão é sugerir e cobrar resultado. Senão nunca os nossos representantes irão sair do transe de seus discursos monoglotas e acordar para as necessidades. Eu vejo uma oportunidade para dialogar com quem está disposto a ouvir. Afinal, quem não quiser dialogar, vai perder o assento logo mais. Quem viver, verá.