Follow the money! A frase que serviu na investigação do Watergate parece perfeita para entender como anda o carnaval no Brasil.
Seguindo o rastro da grana, encontramos uma evidência: tem marca grande deixando o carnaval da Sapucaí para investir nos blocos de rua.
Só a prefeitura de São Paulo arrecadou 15 milhões em patrocínio para o Carnaval de 2017. No ano passado, a festa custou 10,5 milhões, bancada 50% pelo dinheiro público. O resultado é uma explosão de blocos pré, durante e pós o carnaval. São Paulo oficializou 391 desfiles, Belo Horizonte com 350. No final de semana que passou, o Rio de Janeiro abriu as ruas para 118 bloquinhos no aquece carioca.

Amor e alegria tomaram conta das ruas do Brasil e das fotos pelo Instagram.
Luciana Araujo @lucianagaraujo / Instagram
O povo comprou tanto a ideia que surpreendeu até o auto intitulado prefeito gestor João Dória. Nas reuniões preparatórias, a Prefeitura e a PM calcularam 250 mil pessoas, no sábado apareceram 700 mil. O resultado foi uma pitada de confusão, trânsito megalomaníaco e sujeira além da conta – que Dória prometeu corrigir para os próximos eventos.
Além de aprender como arrecadar fundos pra festa, é importante estudar meios de como mandar a turma de volta pra casa. A confusão começa quando decide colocar os bêbados purpurinados em regras de bom convívio com a vizinhança. Na hora de convidar a turma a voltar para casa, a polícia usou spray de pimenta. Cadê o espírito carnavalesco, né? A PM diz que foi uma retaliação contra-atacando vândalos. Tem quem negue no Facebook. O fato é que dispersão do fogo de carnaval precisa ser tema das principais prefeituras do país urgentemente. Quem diria!
Além de música pra todos os gostos, os nomes dos bloquinhos já chegam tombando geral.
“É pequeno, mas não amolece” (RJ), “Rola Preguiçosa, tarda mas não falha” (RJ) e o “É pequeno + Balança” (SP) mostrando que a farra não está fácil para os meninos. Enquanto as meninas mandam ver no “Vampiras Safadas e Seres Fantásticos de SP” (SP).
O carnaval de Brasília tem um no estilo da política brasileira: “Agoniza, mas não morre” (BSB).
A lista é longa, principalmente das homenagens pra todos os gostos: “Arriano Suassunga” (SP), “Tô de Bowie” (SP), “Bumba meu Bowie” (Olinda), “Balai Lama” (BH), “Pena do Pavão de Krishna” (BH). E na pegada religiosa, tem bloquinho levando a palavra de Deus a sério. Dia 28, na Praia do Flamengo, sai o bloco evangélico “Mocidade dependente de Deus”, carnivalizando sem álcool e drogas.
Até servidores públicos resolveram se unir com o “Mostra o fundo que libero o benefício” (SP).
Tem de tudo.
Ainda nas prévias, já tenho a minha musa do asfalto: Alessandra Negrini com a fantasia pelo Parque Augusta (SP). Causou literalmente com a causa que assino embaixo: esta área verde do centro paulistano merece ser aberta ao público. Tô com a Alessandra e não abro!

Alessandra Negrini com a fantasia em defesa do Parque Augusta em São Paulo #Musa
Divulgação / Patricia Cançado
Preparem os tamborins para tirar e botar as máscaras. Carnaval é semana do pode tudo. O que não vale é perder o respeito na sarjeta. Não adianta dizer quem está na chuva é pra se molhar – ou a menina que desfilou no “Vampiras Safadas” se sujeitou ao assédio. Não tem desculpa.
Uma pesquisa feita pelo Renato Meirelles para o Catraca Livre no ano passado mostrou que o pensamento vagabundo supera o 1%. Os números revelaram que 61% dos homens acreditam que mulheres solteiras não podem reclamar de cantadas no Carnaval e 49% acreditam que blocos e festas de rua não são lugares para mulheres direitas.
Furou o sinal, querida, a camisa da campanha #MeuNúmero criada no ano passado pela The Aubergine Panda com a ONU Mulheres não saiu de moda: “Se a abordagem é agressiva, meu número é 180”. Viu ou sofreu qualquer tipo de violência, disque 180 neles. O atendimento é gratuito, 24h e confidencial.
Dito isso, viva a folia!