Voltei de uma viagem no tempo. Estava no Vale do Silício, a terra onde o futuro acontece agora. A região em Mountain View, na Califórnia, que concentra as principais empresas de alta tecnologia do mundo.
Inteligência artificial é a trending topic do burburinho nerd. O cérebro artificial que Gilberto Gil canta aqui desde os anos 1970 parece que virou um sabichão de vez. E para alimentar os meus neurônios bem humanos, estive com um dos papas do assunto, o cientista e professor da Universidade de Stanford, Sebastian Thrun. Um sujeito careca como eu que criou o carro que dispensa motorista. Depois de anos como cientista-chefe do Google X, justamente onde surgiu o atual projeto do carro autômato do Google, Sebastian agora se dedica à Udacity, uma universidade que tem cursos à distância para preparar a mão de obra para as novas tecnologias. Os cursos são criados a partir da necessidade levantada com as empresas que demandam nerds faixa-preta para cuidar do desenvolvimento da tecnologia mais avançada hoje no planeta. Na Udacity, os cursos são chamados de Nanodegrees e a duração deles pode ir de duas semanas a um ano e são oferecidos online, inclusive para nós, brasileiros.
Enquanto forma novos mestres da alta tecnologia, Sebastian Thrun continua nas pesquisas para aprimorar os carros sem motorista. Eu tive a oportunidade de literalmente controlar um deles. Em vez de volante e acelerador, o comando era por um controle remoto muito parecido com esses de videogame.
Enquanto circulava pelas ruas em Mountain View, batia a sensação esquisita de ver aqueles carros só com o passageiro distraído em seus telefones enquanto são guiados pelo transporte robô. Os carros sem motorista conseguem ler a estrada em todas as direções com sensores instalados na sua lateral para, teoricamente, não repetir os erros humanos. São máquinas que aprenderam os trajetos previamente mapeados. O Google já colocou mais de 50 deles na rua que começaram os destes desde 2009.
Outra dose de futuro já disponível no Vale do Silício é o carro Tesla, movido totalmente por energia recarregável dispensando o uso de gasolina ou outro combustível líquido. O mais inacreditável: você pode completar a energia do veículo de graça em vários pontos da cidade. Apesar de precisar contar com um motorista à moda antiga guiando o volante, ele opera em sistema semi-automático. Se o condutor se descuidar, o carro pode freiar ou tomar decisões para evitar colisões.
Quando chamo um Uber no meio de Palo Alto, sou recebido por Mário Neto, um brasileiro que deixou Goiania que leva passageiros no seu Tesla. O carro que não é nenhuma pechincha- custa cerca de US$ 150 mil dólares nos EUA- parece valer cada centavo investido. Quando falei para o colega goiano que estava atrasado para a reunião, ele rebaixou o carro como fazem os carros de corrida e aceleramos, em silêncio já que o carro é elétrico, pela auto estrada – com toda segurança, claro.
Desembarco no Brasil com a sensação de que estamos guardando nas garagens verdadeiros tijolões enquanto tem gente usando melhores smartphones a milhares de quilômetros daqui.
Antes da volta, enquanto estava seduzido pela modernidade controlada por cérebros artificiais, recebi um sinal do universo. Na volta do jantar de despedida, peguei uma carona numa Mercedes esporte com um engenheiro de software da Udacity. O que era para ser um rolê chique no último dia, virou a grande lição. A gasolina acabou e precisamos empurrar o carro por algumas quadras enquanto ele justificava o tanque vazio. Agradeço aos deuses por me lembrar que ainda estamos muito longe de um mundo sem defeitos. Ainda somos humanos!
Assista à experiência e um trecho da entrevista com Sebastian Thrun 🙂