Vaquinha online é única solução para alguns atletas

Por Marcelo Tas

Vamos assistir no quintal de casa aos 465 brasileiros que vão vestir o uniforme da seleção brasileira na Rio 2016. Eles representam apenas 0,0002% do país, mas entraram para a história como a maior equipe olímpica que o Brasil já convocou na história.

Nem precisa ser bom de conta para saber que a corrida para entrar nesta estatística é dura e a largada dos treinos é dada bem antes da Olimpíada. 

No caso do pugilista Patrick Lourenço, a promessa de ser campeão foi feita no seu aniversário de um ano de idade. No colo do pai, ouviu o tio brindar a festa do menino desejando muitas medalhas na vida. O momento foi gravado em vídeo e virou uma das poucas recordações do pai de Patrick que foi morto por causa de uma briga de rua quando ele tinha apenas três anos. Criado pela mãe e a avó, começou a trabalhar aos 13 anos. Descia a favela carioca do Vidigal para catar bolinha de tênis no Clube Caiçaras onde juntava trezentos reais por mês, somando as gorjetas dos sócios mais solidários como a atriz Malu Mader que também já teve Patrick como boleiro. 

Descobriu o boxe em um projeto social do Raff Giglio e de lá pra cá só colecionou vitórias nos ringues. A partir do dia 06 de agosto, o menino de apenas 49kg vai emocionar o Brasil nas provas de Boxe na Olimpíada inspirando o Brasil, especialmente a turma do Vidigal. 

Nem todos os heróis conseguem uma vaga para disputar uma medalha na Rio 2016. Davi Albino nasceu no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. A região conhecida pelos índices de violência ainda era mais segura do que as ruas de Moema. Depois de perder a casa no Capão, Davi, os dois irmãos e a mãe passaram a dormir nas ruas e trabalhar lavando carros na região. Fisgado pelo estômago, começou a frequentar o Centro Olímpico para garantir o lanche. Mas a paixão saiu do estômago para o coração. Logo cedo, o talento do menino foi descoberto e passou a representar o país na Luta Greco-Romana, modalidade popular em vários países, conhecida como wrestling. Deixou a carreira de lavador de carros para ostentar o título de destaque brasileiro na modalidade e medalhista de bronze no Pan Americano de Toronto 2014. Apesar da dedicação diária, o ex-morador de rua e atual ídolo do wrestling não conseguiu uma vaga na Rio 2016, mas estará por lá como auxiliar de treino do pugilista Eduard Soghnomonyan, lutador armênio naturalizado brasileiro. Apesar de estar fora das disputas no tapete olímpico, Davi Albino garantiu uma vaga no álbum de figurinhas oficiais e virou exemplo de inspiração para vários jovens que buscam a inclusão social através do esporte.

A tensão do sonho olímpico começa na conta bancária. Manter os treinos, equipamentos, médicos, alimentação especial, custos de viagem e toda despesa de um atleta de alto rendimento é um rombo na carteira. Principalmente daqueles que não têm saldo suficiente para manter a alimentação básica em casa. 

Para vencer a luta do orçamento, atletas passaram a recorrer às vaquinhas virtuais. As regras da competição de cifrões exige um site de financiamento coletivo, uma boa apresentação da história e potencial do atleta, uma meta de arrecadação e as ofertas de recompensas às pessoas que apostarem na vaquinha. Os prêmios mais comuns são agradecimentos em redes sociais, roupas autografadas, aulas particulares e palestras. Só vai depender de quanto o patrocinador individual investiu. 

Daniah Hagul, nadadora da Líbia, emocionou o mundo com seu crowdfunding. Aos 17 anos, será a única mulher a representar seu país que tem sofrido com uma guerra civil entre um estado falido contra os jihadistas do Estado Islâmico. A falta de recursos da feredação de natação foi superada pela arrecadação de US$ 7.700,00 em um financiamento coletivo que garantiu os custos para garantir sua vinda para a Rio 2016.

A brasileira Maurren Maggi, medalhista olímpica e recordista sul-americana na prova de 100m com barreira e salto triplo arrecadou em 2014 R$ 44.000,00 com doações de 601 doadores que apostaram na vaga da atleta na Rio 2016. A verba não foi suficiente para a qualificação. Em 2015, anunciou o fim da carreira de atleta para assumir o microfone de comentarista de atletismo na Rede Globo.

A nadadora belorizontina Jessica Bruin embolsou R$ 7.183,00 e garantiu a vaga na prova de revezamento 4x200m livres. O valor arrecadado foi 104% da meta para pagar atendimento psicológico, médicos, nutricionistas e o traje de competições. Jessica usou o site francês sponsorise.me, plataforma de financiamento coletivo especial para atletas. O. GoFundMe.com também apresenta uma lista de esportistas que contam com patrocinadores individuais para seguir em busca de conquistas. 

Outra brasileira bem sucedida na vaquinha virtual foi a atleta do nado sincronizado Lara Teixeira. Os R$ 4.540,00 arrecadados no sponsorise.me serão destinados para pagar as aulas de corrida consideradas fundamentais para a prática da modalidade aquática. Aos 28 anos, a atleta de Campos de Goytacazes (RJ) tem muitos argumentos para conquistar os doadores online. A Rio 2016 será sua terceira experiência olímpica além de ser campeã brasileira apenas 50 vezes.

No Brasil, o site Kickante criou em parceria com a Microsoft o Coletivo do Esporte (coletivodoesporte.kickante.com.br), uma área dedicada ao financiamento coletivo de projetos sociais de incentivo ao esporte proporcionados por grandes nomes do esporte brasileiro como o técnico Bernardinho e o ex-atleta Flávio Canto. O objetivo é ajudar a promoção do esporte após o fim da Rio 2016 para continuar transformando vidas como a de Patrick Lourenço e Davi Albino. Os doadores podem contar com o abatimento fiscal oferecido pela Lei de Incentivo ao Esporte com os limites de desconto de 6% para pessoa física e 1% para pessoa jurídica. 

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